Um olhar poético
O
grande problema ou não de um poeta, ou quem assim se considera, é a observação.
Temos
um olhar educacionalmente falando multidisciplinar.
Nossos
olhos percorrem tudo e todos, em instantes a velocidade da luz.
Percebemos
cores, aromas, olhares, faces, caretas, som, luzes dispersas em todas as
direções.
Nos
transmutamos.
Nossa capacidade de interação foge ao convencional, ao que
foi dito, percebemos o que não se disse.
Releio
e revejo cada expressão, cada sorriso, cada interrogação, cada negativa e
desinteresse.
E
isso nos deixa assim atônitos, pensativos, tentando conjugar verbos que não
conjugam entre si.
Com
a poesia sendo nossa guia, não conseguimos esboçar coisas tão imediatas ou
reais, palpáveis, que consigam transmitir ao outro a nossa percepção.
Como
ser poeta e ser gestor?
Como
transformar a capacidade de percepção em literatura profissional?
O
mundo precisa de pessoas que nos façam emocionar, mas ao mesmo tempo não
podemos cair na pieguice de frases já feitas e rótulos já consagrados.
Não
podemos impor o que os sentimentos nos dizem, mas descobrir nas palavras o que
podem tocar o seu coração.
Como
unir teoria, prática, globalização, alinhamento de carreira, mudanças,
concorrência, diferencial, competências, habilidades, relacionamentos
interpessoais, sobrevivência competição com o mundo poético que vislumbramos?
Como
transmitir literalmente a quem nos lê, aquilo que nos parece tão óbvio, sem
cair no achismo?
Não
sei.
Queria
poder ter essa palavra mágica que transformasse o que sinto em discurso
universal, que fosse entendido, aqui, acolá e muito além.
Queria
ter o poder, o dom de repassar o sentimento de unidade, de dependência um dos
outros, de fraternidade, de troca, da necessidade de empatia num mundo tão
individualista.
Mas
não encontro as palavras certas, as explicações que se exigem sobre algo ter ou
não a capacidade de transformar a vida, a minha, a sua, a dos outros.
E
então me consolo no Amor. Talvez o amor, um sorriso, seja uma linguagem
universal entendida em qualquer língua, em qualquer lugar.
Mas
como posso te pedir para amar, a tudo e a todos, sem padecer de parecer tolo,
ultrapassado, fora do tempo, da realidade?
Estamos
na era da corrida, das mudanças, do conhecimento, da reciclagem profissional
interminável, em que padrões de comportamento e aprendizados de ontem estão
ultrapassados.
Como
parar o tempo, por um segundo apenas, olhar em teus olhos, e dizer: eu te
percebo e te amo? A ti, meu semelhante, meu colega, meu irmão, meu aluno, meu
professor, meu chefe, meu filho, minha mãe...
Como
explicar a um mundo tão estereotipado, massacrado, informatizado, brilhante,
caótico, diferente, que estamos acá, no mesmo barco, remando para o mesmo
lugar, com os mesmos sentimentos, com as mesmas qualidades e defeitos, com os
mesmos sonhos e pesadelos num mundo tão divergente?
Não
sei.
Queria
apenas te tocar, assim suavemente em teu ombros e dizer: estou aqui, tu estás
aí, não podemos ser apenas nós?
Vem
cá, me dê um abraço, sinta meu coração pulsar no teu, veja como minhas mãos se
entrelaçam com a s tuas, assim naturalmente.
Vem
cá, deixe a poesia te invadir, me cante uma canção, me faça um afago, não me
faça sentir tão só.
Poetas,
ah essa raça de gente que acha beleza na tristeza, na desgraça, no belo, no
feio, no certo, no errado, em tudo.
Talvez
um convite: venha poetizar!
(2006)
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